
"Sob a luz dos holofotes, tudo parece mentira. A vida se esvai enquanto ouvimos gritos, que poderiam muito bem ser abafados pelo som dos nervos que nos seguram - e é só por isso que não partimos para cima de todos, não acabamos com isso. Afinal de contas, quem sobraria para contar a história. Mas é inútil. O show vai continuar, estando nós escalados ou não, pois a vida é um palco constante, em que escolhemos algumas falas, construímos um papel. Mas cujo roteiro não é inteiramente nosso. Então somos golpeados incessantemente pelas vontades alheias, que desfazem dos nossos gostos e pretensões e nos matam calmamente, sob a luz da lua. Quem de nós já não sonhou com o fim do anonimato? Sem saber que na verdade é apenas o começo do fim, quando nos tornamos públicos, deixamos de ser nós mesmos, somos nós mais um, nós mais todos, nós menos tudo que é somente nosso e mais tudo que todos querem que seja o que somos. As pessoas sonham com o que não podem ter e esquecem de que tudo que precisam está dentro delas. O que somos não é o que temos, o que é palpável e pode ser visto, mas o fazemos, as marcas que deixamos no tempo, o que falamos, o que construímos, o bem que causamos. Enquanto marchamos sob os holofotes, vemos nossa matéria se esvair, o que sobrará no final? Apenas nossos rostos no espelho, uma tela de nuvens por entre as quais conseguimos ver a sombra do que fomos um dia. Nada mais. Ainda há tempo. Tempo para valorizar o que é real, tempo de estudar a nós mesmos, tempo de refazer, lenta e calmamente, as falas do que escolhemos ser. Ainda há tempo. Por favor, apaguem a luz."
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