segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vida eterna

Quem somos diante da imensidão da vida? Para entender o que nos acontece, os significados, os resultados, as razões que trazem cada acontecimento.

Eu tinha medo. Muito medo da morte. Não da minha, mas de enfrentar a "perda" de alguém que amo. Mesmo sabendo que a morte como a conhecemos não passa de uma transição, de uma mudança de estado da matéria e se é fim, é fim apenas para esta existência, esse estágio da vida. Mesmo assim, eu tinha muito medo.

Nas minhas infinitas sessões de terapia (sim, porque o melhor da vida é a gente se conhecer) eu sempre discuti isso. Meu apego à situação atual da vida, às pessoas que amo, e até mesmo ao que tenho - sim, eu sou apegada. Não me acho materialista, mas sou apegada.


E aí, do nada, vem um acontecimento desses e tira a gente da zona de conforto. Para quem não sabe e me lê (e aí acho que merece saber porque ando tão melancólica), meu pai foi diagnosticado de câncer no pulmão há menos de um mês. Com cinco pontos de metástase. Os médicos tentaram reforçar os pulmões e deixá-lo forte para tentar quimioterapia, mas não houve tempo.

Ele ficou uma semana em coma induzido na UTI e eu tive a honra de largar tudo de lado e estar lá, cada minutinho, para ver se ele estava o mais confortável possível e se todos estavam fazendo o melhor para ele. Acreditamos que o melhor foi feito. Mas seu corpo ficou frágil e não suportou a pressão do câncer. Ele deixou esse mundo ontem à noite, silencioso, num último sopro de vida que se esvaiu sem que pudéssemos perceber.

Foi tão rápido e repentino, para um jovem forte de 55 anos, que aqueles que não estavam lá conosco custam a acreditar que aconteceu. E mesmo eu, que estava lá all the time, às vezes me pego pensando...

Infelizmente, não pude estar lá com minha mãe quando ele se foi, nem estarei no enterro - parece que ele quis me poupar desta parte, embora nesse momento eu quisesse muito estar lá. Estamos todos tristes, obviamente, mas sabemos que todos se vão no momento certo, e cumprem nessa Terra o papel que devem cumprir.

Então o que desejamos a ele é que ele agora esteja melhor, que se recupere e que em breve possa voltar a aprender. Pois é isso que somos, eternos aprendizes...

Meu amor me disse ontem uma frase linda: que "só quando as pessoas se vão é que percebemos o quanto delas nos preenchia". Toda morte deixa um pequeno vazio, que precisa ser preenchido com amor, compreensão, saudade e muito trabalho para o bem.

Durante esse tempo de UTI, conheci várias histórias. De gente que morre, de gente que vive, de gente que vai para lá e não volta, de gente que volta sorrindo feliz. E percebi algo que na verdade eu já sabia, mas que nossa vida corrida, nossa condição social, nosso consumismo exagerado, tudo isso nos faz esquecer: NO FIM, SOMOS TODOS IGUAIS.


Meu pai, a primeira desembargadora do estado de Santa Catarina, uma menina de classe média, um senhor pobre, um rapaz quase sem família. Todos ansiando pela mesma coisa: um tempo a mais de vida. Esquecendo coisas, bens, situações e correndo atrás de cada segundo que a vida ainda lhes reserve.

Nem todos conseguem um tempo a mais. Mas certamente todos têm o tempo que é necessário a seu aprendizado individual. Se hoje estou triste, me consola saber que aprendi. Saber que fiz o meu melhor. Que esqueci as brigas, as diferenças, as desavenças e amei, incodicionalmente, até o último minuto.

Ajudar aos outros e a si mesmo faz muito, muito bem. E a morte deve também ser um aprendizado importante, um passo rumo à maturidade espiritual. Não posso dizer que estou curada do meu medo, longe disso. Mas que hoje ele é um pouco menor do que ontem. Isso, é.

4 comentários:

Ana Paula disse...

Admiro como vc é uma mulher forte!
Força e muita paz amiga.

bjs

Unknown disse...

Lindo, Ka!

Me emocionei lendo esse seu texto.

Cristiane disse...

Ainnn

doeu o coraçãozinho de saudade...

o texto é bom demais, jornalista!

beijoca cunha
estarei com vocês sempre

Júlia Lucchese disse...

Oi Kati!

Lindo texto, real e emocionante!
Verdade... quando uma pessoa vai embora é que tu vê o espaço que ele preenchia no teu coração.
Hoje passei na frente da antiga casa de vocês na praia.... muitos momentos me vieram na cabeça!
Saudades!