quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cadê a criação?

No meu tempo, moda era quase sinônimo de transgressão. Eu lembro que me formei em jornalismo e queria me aperfeiçoar em alguma área. Fui buscar a de publicações, pois eu queria fazer uma revista completa e sabia pouco sobre design gráfico. Depois de fazer a inscrição do vestibular, vi que o curso que eu buscava só tinha entrada seis meses depois. Ou seja, era perder o dinheiro ou tentar outro curso. Fui vendo os currículos e me interessei pelo primeiro semestre do curso de moda, pois ele tinha várias disciplinas em comum com Desenho Industrial. Me inscrevi e passei na prova vocacionada (foram os livros ou eu levava jeito? Rs).

Lá fui eu fazer Moda. Confesso que até entrar no curso tinha um certo preconceito, como quase 100% de quem estava de fora na época: Moda é coisa de modelo. Que nada, me deparei com uma turma maluca, super criativa, éramos incentivados a estudar a arte, a história e a sociedade, para tentar entender os movimentos de comportamento e os caminhos do futuro, para criar pensando na geração de amanhã.
Mais se destacava quem era mais diferente, quem não tinha medo de errar, quem tinha uma veia transgressora forte, que ia além, enxergava o que a maioria não via. Éramos poetas, comunicadores, loucos atrás de tudo que fosse novo e diferente.

E aí eu pergunto: cadê a moda? Cadê a transgressão? Na era dos blogs, o que mais vejo é um monte de menina bonita, com grana e que veste grife. E que dá muita “dica” de tendência, substituindo os cadernos de produto das grandes revistas e dos cadernos de moda dos jornais. São bem maquiadas (cite grifes), bem penteadas (cite profissionais), ganham presentes a toda hora de marcas que elas então sugerem como as “the best”. Só para mim tudo isso parece tudo óbvio e comportado demais?
Nada diferente das vitrines, nada que choque ou que seja estranho em um primeiro olhar, nada que sugira uma ideia totalmente nova e que transgrida o ciclo dinheiro-marca-look do dia. Uma ou outra lembra que pobre também vê blog e dá dica de onde comprar os genéricos da moda, os tais “inspired”.

Tudo chato, sem sentido, muito comportado, muito cachorrinho no colo.

Eu tenho uma afilhada que como milhares de sua geração também adora moda, compras, looks e afins. Eu acredito nela, porque ela ousa. Porque às vezes eu vejo algo que ela sugere ou coloca como inspiração e simplesmente não acho bonitinho. Tem conteúdo ali, tem ideia ali. Sou de uma época em que moda era chamada criação. Mas cadê?