segunda-feira, 13 de junho de 2011

A vida na materno idade

Mesmo quem planeja muito um filho é pego de surpresa depois do nascimento do bebê por mudanças radicais no dia a dia. Quando engravidei, as pessoas diziam: dorme bastante agora, porque depois... E eu não dormi, óbvio, porque a gente só entende a situação depois, quando passa por ela. Nos primeiros dias, quando eu estava grogue de sono, lembro de pensar “por que eu não tinha dormido mais durante na gravidez” (como se fosse adiantar, né?).

Um filho é mesmo significado de vida. Ele (a) parece uma grande lente de aumento, que amplifica tudo que somos. A parte boa e a parte ruim. E como é difícil, complicado e trabalhoso criar um bebê, a gente acaba se surpreendendo com nosso poder de adaptação e, ao mesmo tempo, com tanta coisa que temos enrolada dentro da gente e que, de uma hora para outra, é colocada em choque.

Antes éramos somente nós. Se estivéssemos felizes ou tristes, tudo bem, só tínhamos que nos preocupar com a nossa própria necessidade de ficar bem. Agora não. Há uma criança, que por maior capacidade de apreensão de conhecimento que tenha, é frágil e ainda depende exclusivamente de nós. Já não temos o direito de passar dias na fossa, de ficar de ressaca, de nos esconder do mundo. Há uma mini pessoa que precisa de nosso bem estar para aprender a ser feliz.

Isso por si já é uma pressão danada, especialmente para quem já tinha alguma dificuldade para sentir-se bem. Vivemos em um mundo que alimenta depressões, ansiedades, solidões, angústias. Um mundo doente (já dizia o Renato Russo). Lidar com tanta energia pesada não é uma tarefa fácil.

Há pessoas mais sensíveis, para quem essa tarefa é ainda mais árdua, pessoas cujas antenas estão sempre captando essas energias, e que precisam de alguma forma aprender a lidar com isso. Pois é: aprenda, pois o tempo urge e um bebê está em pleno crescimento, outra anteninha ligada no 220 e captando tudo que você – sim, você – passa.

Ou seja, alegria, tristeza, ansiedade, raiva, rancor. Além de tudo que aprende normalmente: sentar, pegar objetos, comer, engatinhar etc., um bebê ainda capta cada emoção e cada sentimento das pessoas que estão mais próximas dele.

Nesse ponto, a pressão já foi quase em seu limite máximo. Agora junte a isso a necessidade de continuar sendo um indivíduo, mesmo vivendo uma espécie de “simbiose” momentânea com um serzinho mamão, chorãozinho e brincalhão. É preciso cuidar da própria saúde (física, mental e emocional, principalmente), dos relacionamentos, do trabalho, das amizades.

As mulheres, na maior parte das vezes, já parecem mais preparadas para essas mudanças todas, aprendem desde criança que serão mães, e existe uma espécie de instinto que nos impulsiona para isso, mais cedo ou mais tarde, salvo raras exceções. E ainda assim, tudo isso é muito difícil. Se a gente se descuida, começa a passar ansiedade para o bebê. Mas se investe tempo maior para si, sente-se culpada por não dar tudo que pode à criança.

E separar a imagem de mãe da imagem de mulher é complicado nos primeiros meses. A amamentação, acredito, também dificulta isso um pouco, pois a gente se sente parte do bebê e o bebê continua sendo parte de nós, como era na barriga (mas é muito bom!). Aos poucos, eles se distanciam, criam uma certa independência e aí começamos a sentir falta de um tempo maior para nós. Ótimo, pois é aí que voltamos a buscar nossa identidade, complementada pelo papel maternal.

Agora, difícil mesmo deve ser para os pais. Homens não são preparados para isso. Dificilmente têm essa ânsia de ter filhos, e vivem um peso gigante da sociedade que ainda os pressiona com o papel de provedores – isso é comprovado cientificamente, mesmo em famílias que dividem todas as despesas, a ansiedade paternal pela necessidade de garantir a subsistência da família é enorme.

Acredito que eles mesmos se impõem pressões, angústias, conflitos. Que se unem aos antes já existentes. A delícia de ter um bebê que se parece com você, que espera você chegar em casa para brincar e que imita tudo que você faz é permeada por um mundo de intenções, necessidades, problemas. Talvez a falta do tal instinto da mulher dificulte isso.

Aí, junta pai e mãe, homem e mulher, conflitos de Marte e conflitos de Vênus. Tudo misturado na mesma casa, com a correria do dia a dia e a nova rotina que está sendo ainda criada. Não tem como ser fácil, né? Acho que antigamente era um pouco mais tranqüilo porque existiam dois papéis distintos: a mulher tinha os filhos e os criava e os homens trabalhavam e mantinham a casa. Simples assim.

A gente inventou de se emancipar e agora é tudo misturado. É preciso decidir quem fará o que, a quem delegar tarefas. Ou seja, ficou mais complicado. Talvez, quando bem resolvido, mais prazeroso e mais saboroso para ambas as partes, que podem vivenciar o que desejam sem imposições (ah ta), mas quantas pessoas conseguem essa coisa do “bem resolvido”?

A questão é: a vida está aí para nos ensinar os melhores caminhos. Com a vontade de acertar e as pressões internas diminuídas, é possível aprender a ser todos os papéis que temos nessa vida. Como um homem incrível (que está aprendendo muito nos últimos tempos, com todas as dificuldades possíveis) me disse hoje: é preciso “pensar com o coração”. AMO.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Bulling de mãe. Existe?

Eu sempre tive um pensamento: eu teria um filho (ou filhos) e o (s) colocaria na escolinha quando chegasse a hora. Babá, nem pensar, ainda mais morando em uma cidade como São Paulo, onde é mais difícil conhecer as pessoas etc. E a hora certa de colocar na escolinha, porque eu trabalhava fora de casa, era o 4º ou 6º mês do bebê, dependendo do meu empregador. Eu não conhecia pessoas que tinham filhos e ficavam com eles em casa - ou entregavam para babás ou colocavam em escolinhas. E eu ficaria com a segunda opção.

Porém quando nosso filho nasce, as idéias mudam. E como mudam! Eu comecei a sofrer pensando no momento em que eu iria deixar aquele serzinho minúsculo (lembram como o Enzo nasceu pequenininho?) em um berçário. Mas consegui fazer um acordo no trabalho (já agradeci a Monica aqui, mas vale dizer de novo: obrigada!) e fazer boa parte das minhas tarefas do escritório de casa.
Vejam bem: nada contra as escolinhas! Se eu não tivesse feito o acordo na empresa, o Enzo estaria lá, na melhor que eu conseguisse e eu conviveria com isso, como todas as mães-heroínas que existem por aí! Mas não posso dizer que estou infeliz por ele estar casa. Claro que não! Eu agradeço a Deus todos os dias por essa oportunidade e gostaria que todas as mães pudessem ter esse privilégio.
Mas como eu não critico aquelas que seguem a necessidade e deixam seus filhos nos berçários da vida, gostaria muito de não sofrer críticas por não fazer o mesmo. Eu brinquei ontem (mas será que é tão bricadeira assim?) que estou sofrendo bulling de mãe, rs. Tudo que acontece com o Enzo, bom ou ruim, mas especialmente as coisas não tão boas assim, são culpa dele não estar na escolinha.

Desmamar será mais difícil por ele estar em casa. Ele ficará mais manhoso por estar em casa. Ele vai ser menos sociável por estar em casa. Ele será mais egoísta por estar em casa. Ele será menos esperto e inteligente por estar em casa. E eu pergunto: será???
Nem eu nem meus irmãos fomos para berçários. Tínhamos babá em casa, cuidando exclusivamente da gente o dia todo. E obviamente, quando minha mãe chegava nos cobria de amores. E nenhum de nós foi criança manhosa ou burra ou egoísta ou antisocial e nenhum de nós mamou por tempo maior do que o necessário. Tem a filha de um casal de amigos meus que também foi criada em casa, metade por babá, metade pela avó, metade pela mãe que trabalhava em casa como eu e metade pelo pai que também tinha horário flexível (sim, tudo isso de metade). E é uma criança incrível.

As pessoas usam frases como: desmamar em casa será complicado, se ele fosse para a escolinha isso seria natural. Natural não, forçado, né? Mais "fácil" porque tem motivo, necessidade, não é tão flexível. E fácil do ponto de vista prático, porque tem amiga minha aí prá dizer o quanto emocionalmente difícil é essa transição.
O Enzo estar em casa hoje é uma benção. E torna algumas coisas mais fáceis e outras mais difíceis. Vai chegar uma hora em que será necessário para ele ir a uma escola: para conviver com crianças da idade dele, para gastar energia, para aprender coisas diferentes. Mas hoje ele é pequeno, está ainda começando a ter noção do outro e mal senta sozinho. E pode ficar em casa, então fica.

Meu dia a dia está um malabarismo só. Eu estava psicologicamente preparada para sofrer a dor da separação diária e continuar a mesma rotina, e tudo isso me pegou de surpresa. Uma doce surpresa. E assim como com relação ao andador, tudo que eu quero é ser respeitada na minha (nossa) decisão. Como as pessoas têm coisas para falar!