quarta-feira, 23 de março de 2011

Doce rotina

Um dia uma mulher levantou revoltada com o marido e decidiu queimar sutiã (calma, eu sei que não foi assim, esse texto é só uma brincadeira). Achou que seria mais fácil sair para trabalhar - os outros que cuidem da casa, da roupa, dos filhos. Mal sabia ela que estava criando uma coisa chamada multifunções (alguém mais detesta a propaganda daquela marca que fala que é feita para a "multimulher"?).
Ao invés de trocar, agregamos. Em busca de liberdade de escolha, criamos um padrão inatingível de perfeição - que pode não ser totalmente exteriorizado, mas vive como um monstro dentro do nosso inconsciente. Eu tenho que ser profissional, mãe, mulher e, sempre, não adianta dizer que não: dona de casa. Mesmo aquelas que têm a vantagem de contar com a ajuda de uma secretária do lar (antigamente conhecida como doméstica, rs) precisa ditar regras, coordenar o trabalho, fazer compras ou ao menos listar o que é necessário. Não adianta: mesmo chegando em casa depois de um dia estafante de trabalho, você ainda terá que dar uma olhada na casa para ver como está tudo.
Ok, ok, eu sei que muitas famílias estão mudando isso, vários pais estão ficando em casa para cuidar dos filhos enquanto as mulheres vão à luta no competitivo mercado de trabalho (onde, diga-se de passagem, elas ainda ganham menos do que eles na mesma função). Mas o problema nem sempre está no que se pode ver. Enquanto as mulheres não aprenderem a relaxar e fazer suas escolhas sem seguir padrões pré-estabelecidos, o problema vai continuar.
E ele se chama estresse, ou síndrome da fadiga crônica, ou síndrome do pânico, ou simplesmente "estou arrancando meus cabelos"... a gente se obriga a ser uma mãe dentro dos padrões, vencer todos os prazos do trabalho, deixar a casa impecável e ainda estar com a unha feita, o cabelo escovado e com o tratamento anti-celulite em dia.
Esses dias eu estava vendo a nova novela das oito e a Camila Pitanga, uma diretora de marketing bem sucedida que engravidou do peguete que não quer saber de compromisso, estava destilando seu fel sobre sua condição de mulher jovem, bonita e bem-sucedida - aliás, ter sucesso no trabalho, segundo ela, extingue as poucas chances de uma mulher encontrar um parceiro. E ela, que conquistou tudo que uma feminista de folhetim poderia querer (inclusive uma produção independente), revela que na verdade o que sempre quis foi encontrar um amor para compartilhar a vida: "ficar velhinhos juntinhos, sabe?".
Então porque cargas d'água ela foi fazer faculdade sozinha na cidade grande e foi galgando tantas posições em empresas de vários tamanhos, numa sede de sucesso, se tudo que ela queria era casar e ter filhos? PORQUE SE VOCÊ NÃO FIZER ISSO, HOJE, É CRITICADA. Pronto, falei.
Aí, a gente vai empurrando as adolescentes para serem protagonistas de histórias que elas não amam, não desejam, não querem. Como a gente faz isso? Através de papéis femininos que estão estampados nas revistas (desde aquelas para molequinhas), nos livros, na televisão, no cinema etc.
A outra lá também é uma mulher de sucesso, se apaixona pelo Tarcisão (que velho bonito, né? Afe), mas não pode beijá-lo em público porque isso vai torná-la fraca aos olhos dos colegas. Como diria minha amiga Anita: o que é isso, colhega? E o direito que tanto desejamos lá atrás de ser e fazer o que bem entendermos?
Enfim. Por causa disso tudo, hoje eu acordei, lavei roupa, alimentei meu filho, troquei fralda, fiz café, lavei louça, alimentei os cachorros, limpei o quintal, vi meus emails, enviei questionários a clientes, escrevi meio texto já e aí parei para colocar isso tudo aqui. Detalhe: ainda são 10:12h!!!
Depois não sei porque fico acabada antes das 21h. Um lixo... ontem eu disse pro David que to precisando de um dia de princesa. Ou seria um dia de rainha... do lar? rs


Retirado do www.babycenter.com.br

terça-feira, 15 de março de 2011

Criança nota 10

Logo que o Enzo nasceu e minha cabeça fervilhava com tantas dúvidas sobre desenvolvimento infantil lembro que alguém me disse: os seres humanos são diferentes, únicos, cada um tem seu tempo, seu jeito próprio de aprender e crescer. Porque a primeira coisa que mãe de primeira viagem faz é pesquisar o desenvolvimento "certo" de um bebê mês a mês e comparar seu filho. Nada pior do que isso para a sanidade mental e emocional de uma pessoa.
Entender que os bebês são seres humanos (sim, porque por um tempo a gente acha que eles são uma "classe" à parte, com um universo de possibilidades diferentes, e quer enquadrá-los em padrões, esperando que eles façam tudo que outros bebês fazem ao mesmo tempo e do mesmo jeito) foi um bálsamo na minha vida.
Mas confesso que o ideal seria se todos entendessem isso. Porque a gente encontra outras mães e até pais e as perguntas se repetem: O seu já faz isso? O seu já fez aquilo? Ele ainda não começou com isso? Chega ao ponto do seu bebê ser avaliado e de nos questionarem sobre o que a pediatra fala sobre determinada coisa.


O Enzo é uma criança saudável, graças a Deus. Talvez por ter sido "tirado" antes, ele nasceu com 38 semanas (lembrando: de cesárea porque eu estava com a pressão alterada e ele tinha chegado a um bom tamanho para o parto), alguns detalhes do desenvolvimento vão acontecer um pouco mais tarde.
Inclusive os sites (os mais sérios, ao menos) sempre têm, ao final de qualquer texto, o lembrete de que cada criança é única e que o que se diz sobre aquela idade é sempre uma média, nunca uma determinação. Especialmente, por exemplo, para crianças prematuras.
O Enzo certamente pode demorar um pouco mais para fazer certas coisas do que a Lavínia, por exemplo, dos fofos Letícia e Daniel, que tem 2 semanas a menos mas nasceu de parto normal e, se não me engano, com 41 semanas. E tem mais, minha sobrinha e afilhadinha linda Maria Cecília tem 1 ano e 5 meses e fala um monte de coisas. Vira prá vovó e pede: "qué vê o pábo", pedindo prá minha mãe colocar o CD dos Backyardigans. O meu priminho fofo, João Francisco, é alguns meses mais velho e não fala tanto. E os dois são normais, saudáveis e maravilhosos. Cada um aprendendo as coisas a seu tempo.
Não dá prá julgar o desenvolvimento infantil baseado em padrões pré-estabelecidos. É preciso levar em conta o histórico do próprio bebê, o que ele aprende mês a mês, os estímulos que tem etc. A Maria Cecília (tá bom, vai, minha fofinha é meio precoce, rs) tinha praticamente todos os dentinhos com 1 ano de idade. A Sophia, da Sara e do Carlos, acabou de completar 1 ano e tem apenas alguns deles. Novamente: duas crianças saudáveis com momentos diferentes para atingir metas de desenvolvimento.
Se a gente ficar se impondo padrões, pressionando a nós mesmos para que nossos filhos aprendam tudo antes, sejam os primeiros da classe, estejam sempre dentro da descrição do que faz uma criança da sua idade, corremos o risco de tirar deles o que de melhor tem a vida: a espontaneidade de cada um.
Eu sempre penso na minha própria história: eu vivi a minha infância e adolescência tentando ser sempre a melhor da classe. Estudava demais, queria aprender antes dos outros. Até me ver adulta, cheia de dúvidas sobre se aquele comportamento tinha me dado o que eu queria de verdade. Meus professores queriam que eu fosse médica, para aproveitar a vontade e a facilidade de aprender. Eu fui ser jornalista (e vamos combinar, ninguém precisa ser CDF para ser jornalista).
Sou feliz escrevendo. Mas demorei para entender que o processo do estudo em si é que deve ser divertido, e não atingir sempre o nível máximo do aprendizado. Vou tentar agir com outra filosofia na educação do meu filho. Não importa se ele está um pouco abaixo do peso, se ainda não aprendeu a virar de bruços sozinho, se ainda não consegue engolir direito as frutinhas amassadinhas. Importa se ele aprende as coisas a seu tempo, se está saudável e é feliz. O resto é uma questão de viver, dia após dia, cada conquista, que é única e especial.


Tem coisa melhor do que isso???

quinta-feira, 3 de março de 2011

A primeira gargalhada

Um dia a gente descobre que está grávida. A primeira coisa que muda é sua sensação sobre o mundo (ao menos comigo foi assim), e depois um turbilhão de coisas, a começar pelos hormônios e a continuar pelo seu corpo, pelo trabalho, pela casa que é adaptada prá chegada de um bebezinho, suas roupas, e um belo dia, você é completamente pega de surpresa pela primeira gargalhada.

Sim, surpresa total. Parece que foi ontem... e você pensa: quando foi que ele nasceu que eu nem consigo me lembrar? Parece que esse serzinho esteve a vida toda com você.
O encantamento da maternidade (sim, para mim foi encantamento) toma a gente de assalto, faz tudo ser diferente, te domina por inteiro. Até que aos poucos você se dá conta de que ainda é uma pessoa, de que a vida continua, de que tudo que mudou agora precisa mudar um pouco de novo para que você volte ser duas: mãe e mulher. Mas não adianta: mesmo a mulher agora amadureceu. Para mim, a maternidade trouxe um senso maior de autoconhecimento. O que antes acontecia por acontecer hoje tem sentido. Tem que valer a pena.
Minha essência continua a mesma, o que mudou foi a necessidade de respeitá-la. Mas poucas pessoas entendem isso. Até quem já é mãe custa a entender, já que cada experiência é única e pessoal. Mas é assim. E é por isso que me sinto mais completa e feliz, porque as coisas que busco hoje são verdadeiras e me preenchem.
Se a gente não se questionar, não se conhecer e não buscar aquilo que realmente importa, vamos vivendo no modo automático, sem perceber que o tempo passa e não conquistamos o mais importante: nossa própria individualidade. Uma grande amiga e professora um dia me disse: quando você chegar "lá", Deus vai perguntar o que você fez da sua vida. Da SUA vida. Não da vida do seu marido, dos seus pais, dos seus irmãos, nem do seu filho, embora encaminhá-lo seja uma tarefa das mais importantes da sua própria caminhada. Mas da SUA vida.
Você tinha sonhos, expectativas, vontades, o que você fez para realizá-los? Você ansiou, desejou, planejou, o que fez para que tudo se tornasse verdade? O mais fácil é a gente colocar a culpa nisso ou naquilo e deixar a vida passar. É difícil tomar decisões, escolher. Porque sempre que se escolhe algo, se deixa de escolher outra coisa. Não se pode ter tudo, não é mesmo?
Mas no fim do dia, o que importa é viver sua verdade pessoal, correr atrás do seus sonhos, das suas vontades, respeitar o seu próprio eu e ser você mesma em tudo. Só assim a alegria imensa de ouvir a primeira gargalhada é completa e absoluta.

Obs. não há nada que se compare ao sorriso do meu filho!